Quando acordei fui inundada por mil odores desconhecidos, achei estranho sentir o meu olfacto tão apurado e sensível, mas não liguei muito, estava a saber-me bem o calor dos cobertores, sentia-me preguiçosa e se pudesse, passaria o resto do dia na minha cama. Mas eu sabia que não podia ser assim, tinha que ir para a escola e por isso abri os olhos, as minhas pálpebras estavam pesadas e a minha visão era turva.
Tentei erguer-me da cama mas não sentia os braços nem as pernas tão-pouco, suspirei de frustração e senti a minha língua sibilar.

Olhei para o meu reflexo e este exibiu-me a imagem de uma grande cobra assustadora. Abri muito os meus olhos amarelos enquanto observava a escamas brilhantes que me cobriam o corpo, (quantas lojas de sapatos invejariam aquela pele!) uma língua esguia e bifurcada surgia de entre a fileira de dentes afiados e agitava-se ameaçadora.
“Tenho medo”, pensei, ri-me sem gosto, “ De que serve agora ter receio se eu sou a própria encarnação do medo?”
Saí do meu quarto e rastejei decidida em direcção à escola, enquanto um lençol branco ainda preso no meu corpo se arrastava atrás de mim.
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