domingo, 26 de setembro de 2010

Novo conceito

Quando acordei fui inundada por mil odores desconhecidos, achei estranho sentir o meu olfacto tão apurado e sensível, mas não liguei muito, estava a saber-me bem o calor dos cobertores, sentia-me preguiçosa e se pudesse, passaria o resto do dia na minha cama. Mas eu sabia que não podia ser assim, tinha que ir para a escola e por isso abri os olhos, as minhas pálpebras estavam pesadas e a minha visão era turva.
Tentei erguer-me da cama mas não sentia os braços nem as pernas tão-pouco, suspirei de frustração e senti a minha língua sibilar.
Arrastei-me, literalmente, para fora da cama, caindo pesadamente no chão enrolada em lençóis brancos dos quais não me consegui libertar. Rastejei em direcção ao espelho de corpo inteiro que havia no armário no extremo do quarto.
Olhei para o meu reflexo e este exibiu-me a imagem de uma grande cobra assustadora. Abri muito os meus olhos amarelos enquanto observava a escamas brilhantes que me cobriam o corpo, (quantas lojas de sapatos invejariam aquela pele!) uma língua esguia e bifurcada surgia de entre a fileira de dentes afiados e agitava-se ameaçadora.
“Tenho medo”, pensei, ri-me sem gosto, “ De que serve agora ter receio se eu sou a própria encarnação do medo?”
Saí do meu quarto e rastejei decidida em direcção à escola, enquanto um lençol branco ainda preso no meu corpo se arrastava atrás de mim.

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