Cerâmica

 -Módulo 1-

Desafio


Tema – Um Acordar Diferente – “A Metamorfose” de Franz Kafka
 “Um dia de manhã, ao acordar dos seus sonhos inquietos, Gregor Samsa deu por si em cima da cama, transformado num insecto monstruoso. Estava deitado de costas, sentia a carapaça dura e, ao elevar um pouco a cabeça, via a barriga arredondada, de cor castanha, dividida em faixas rígidas arqueadas, e no alto dela a coberta da cama em equilíbrio instável, quase a resvalar. As muitas pernas, penosamente finas em comparação com a sua actual corpulência, tremiam diante dos seus olhos perplexos. (…)” (“A Metamorfose”, Franz Kafka)

Etapas do Trabalho

  1. Desafio – procurar traduzir como imagino o meu próprio acordar diferente através de um projecto para uma peça cerâmica.
  2. Conceito – registar as minhas ideias por meio de texto.
  3. Referenciais a utilizar na exploração do conceito – explicitar os meus referenciais
  4. Pesquisa – realizar uma investigação sobre a produção artística ao nível da cerâmica que se relacione com o tema da metamorfose.
  5. Exploração de ideias – explorar graficamente várias possibilidades com vista à construção de uma peça cerâmica.
  6. Selecção e desenvolvimento de uma ideia – optar pela proposta que pareça mais conseguida e apresentar os desenhos e textos necessários à sua plena compreensão.
  7. Realização – a execução será levada a cabo nas sessões oficinais.
  8. Apresentação final

Acordaste diferente, o que está diferente em ti?

Hoje acordei diferente, acordei numa cama diferente, num quarto diferente e preparei-me para mais um dia numa escola diferente.
Acordei mais decidida e mais forte, porque o meu desejo não é estar nesta escola, o meu desejo é merecer estar nesta escola.

O meu acordar diferente...

Hoje acordei diferente,
Eu sei que sim,
A minha cama estava quente
Pois um calor crescia em mim.

Ontem o medo persistia
E ganhava nas batalhas das emoções
Hoje a vitória foi minha.
Já não invoco solidão
Estou mais forte e decidida,
Mas à ajuda nunca direi não
Pois o receio permanece
E só a esperança ainda aquece
O meu novo coração. 

Tenho medo de me perder 
Nas profundezas do desconhecido,
Tenho saudades e não quero esquecer
Os meus momentos antigos.
é difícil fazer-me entender
Quando o medo fica retido,
Os pensamentos não são claros
E os minutos para pensar são tão raros...

Mas eu hoje acordei diferente
Não sou mais a rapariga insegura
Tenho um objectivo em mente:
Não vou deixar que as grades do medo
Me aprisionem para sempre

O Meu Conceito


Quando acordei fui inundada por mil odores desconhecidos, achei estranho sentir o meu olfacto tão apurado e sensível, mas não liguei muito, estava a saber-me bem o calor dos cobertores, sentia-me preguiçosa e se pudesse, passaria o resto do dia na minha cama. Mas eu sabia que não podia ser assim, tinha que ir para a escola e por isso abri os olhos, as minhas pálpebras estavam pesadas e a minha visão era turva.
Tentei erguer-me da cama mas não sentia os braços nem as pernas tão-pouco, suspirei de frustração e senti a minha língua sibilar.
Arrastei-me, literalmente, para fora da cama, caindo pesadamente no chão enrolada em lençóis brancos dos quais não me consegui libertar. Rastejei em direcção ao espelho de corpo inteiro que havia no armário no extremo do quarto.
Olhei para o meu reflexo e este exibiu-me a imagem de uma grande cobra assustadora. Abri muito os meus olhos amarelos enquanto observava a escamas brilhantes que me cobriam o corpo, (quantas lojas de sapatos invejariam aquela pele!) uma língua esguia e bifurcada surgia de entre a fileira de dentes afiados e agitava-se ameaçadora.
“Tenho medo”, pensei, ri-me sem gosto, “ De que serve agora ter receio se eu sou a própria encarnação do medo?”
Saí do meu quarto e rastejei decidida em direcção à escola, enquanto um lençol branco ainda preso no meu corpo se arrastava atrás de mim.

Referenciais:

-Excertos da Metamorfose
"Bem ainda há uma esperança; depois de (...) pagar o que os meus pais lhe devem (...) libertar-me-ei completamente."
página 11

Esta frase revela o desejo de Gregor de se libertar, tanto da família que dependia dele , como do patrão e do trabalho que não gostava.

"«Oh, meu Deus» pensou, «que trabalho tão cansativo escolhi! ... viajar, dia sim, dia não. É um trabalho muito mais irritante do que o trabalho de escritório propriamente dito, e ainda por cima há a maçada de andar sempre a viajar, preocupado com as ligações dos comboios, com a cama e com as refeições irregulares, com conhecimentos casuais, que são sempre novos e que nunca se tornam amigos íntimos. Diabos levem tudo isto.»"
página 10

Este excerto do pensamento de Gregor confirma o que já referi anteriormente: Gregor não gostava do seu trabalho por diversas razões, mesmo assim devido às dívidas dos seus pais para com o seu patrão este sentia-se na obrigação de continuar : "Se não tivesse de me aguentar, por causa dos meus pais, há muito tempo que me teria despedido; iria ter com o patrão e dizer-lhe o que penso dele. (...)"
página 11

-Imagens

Esta imagem é a metamorfose do barco, é uma imagem colorida e alegre que me lembra a esperança para combater a dúvida.


Nesta pintura de Miguel Ângelo a serpente está representada metade humana, metade cobra. Inspirei-me sobretudo na forma como a cobra se enrolava em volta do tronco e como tenta induzir Eva a cometer o pecado.



Seleccionei este imagem porque a cobra está em evidência e as pessoas que a rodeiam parecem tanto temê-la como venerá-la, e achei interessante essa relação de amor-ódio.

Esta imagem inspirou-me uma vez que o receio se encontra espresso nela. 
Desenhos

O meu quarto 

As escadas


Alguns desenhos relaccionados com a cidade onde eu morei



Reflexão sobre a palavra "diferença"

 




                                                                                                      
O caminho sinuoso da serpente e os padrões diversos que lhe cobrem o corpo representam a mudança ao longo do tempo que decorre.
As curvas simbolizam desvios e mudança de pensamentos e gostos.


Penso que tudo influencia os nossos desenhos, o lápis, o papel, a borracha, até a mesa e a maneira como pegamos nas canetas e pincéis para fazer os primeiros traços do desenho vai ter uma grande influência no produto final.
Por isso decidi desenhar "a mobília cá de casa" que me inspira e me ajuda muitas vezes naqueles momentos em que me sento na secretária a olhar o vazio e a pensar "e agora? o que vou desenhar?". 
 Peguei numa esferográfica e desenhei o que vi, sem lápis, sem borracha, sem régua e sem perspectiva... o resultado foi este:







Dedico-o a uma amiga muito chegada que me faz muita falta.
Tenho saudades tuas, Inês

Pesquisa
Definição
O termo (do grego keramos, "argila") refere-se à manufactura de objectos em barro, posteriormente cozidos. De acordo com o material utilizado e com a técnica empregada, classifica-se a cerâmica em:


- terracota, peça de argila cozida no forno, sem ser vidrada, embora, às vezes, pintada;
- cerâmica vidrada, cuja modalidade mais conhecida é o azulejo;
grés, cerâmica vidrada, às vezes pintada, feita de pasta de quartzo, feldspato, argila e areia; 
-faiança, louça fina obtida de pasta porosa cozida a altas temperaturas, envernizada ou revestida de esmalte sobre o qual se pintam motivos decorativos. O termo descreve também o tipo de técnica majólica com esmalte branco e decoração sóbria, desenvolvida na Itália, durante o Renascimento, na cidade de Faenza.

 A história da cerâmica acompanha a história das civilizações, desde a descoberta do fogo. A argila queimada é utilizada em todas as sociedades, das mais antigas, as consideradas primitivas, até ao Oriente e Ocidente, para a realização de objectos decorativos, funcionais e outros de fins rituais.
Seguem-se algumas imagens de objectos feitos em cerâmica que me inspiram e servem de base para o meu tema.

Kurt Weiser


 



Lynda Benglis


Ralph Bacerra



Mike Peyton



    
   

Betty Wodman

 

Betty Wodman
 

















Visita de Estudo ao Museu Nacional do Azulejo - Relatório
Introdução

Na passada sexta-feira, dia 1 de Outubro realizamos uma visita de estudo ao Museu Nacional do Azulejo, situado em Lisboa no antigo Convento de Madre de Deus (fundado pela rainha D. Leonor em 1509), acompanhados pelos professores responsáveis pela disciplina de cerâmica, Fernando Sarmento e Elsa Gonçalves.
O objectivo dessa visita de estudo era dar a conhecer aos alunos da disciplina em questão a história do azulejo em Portugal (desde a 2ª metade do século XV até à idade contemporânea) e as técnicas utilizadas na sua fabricação.

Segue-se o relato dos conhecimentos adquiridos durante a visita ao museu:

A palavra “azulejo” vem do árabe al zulaicha ou zuléija que quer dizer pequena pedra polida.
O azulejo é uma placa de barro cozido, vidrada e pintada numa das faces, apresenta geralmente uma forma quadrada mas a espessura e as dimensões podem variar (sendo 14X14cm o tamanho tradicional dos azulejos portugueses).

Um azulejo é moldado com uma massa feita de argila e água, essa massa estende-se em tabuleiros e é cortada na medida pretendida, podendo também ser calcada em formas e moldes.


O barro varia consoante a percentagem de compostos de ferro e de outros minerais que possui, dos quais a cor depende, por essa razão o barro apresenta cores variadas como o vermelho, o branco e o amarelo.



O barro cru é calcado num molde quadrado de madeira ou de metal, depois de se retirar os excessos com um raspador, tira-se o azulejo do molde.


As placas quadradas de barro são deixadas a secar ao ar e depois são levadas a cozer em fornos (entre 800° e 900 °C). Tem-se, desta forma, a chacota (placa de barro cozido, sendo o tardoz a parte de trás da chacota que pode ser lisa ou estriada para uma melhor adesão à argamassa) para a decoração.



Existem várias técnicas que podem ser aplicadas ao azulejo para o decorar:

A técnica do relevo que consiste em calcar o barro cru num molde fundo com o desenho traçado em profundidade.


Na técnica da aresta o barro cru é calcado num molde fundo com a decoração escavada e o azulejo fica desenhado através das arestas. Evitando assim que, depois de secas ao ar, através das arestas salientes, as cores se misturem durante a cozedura.









A técnica da corda-seca é um procedimento utilizado para evitar a mistura de cores no azulejo, depois de traçado o desenho na chacota com uma mistura de óleo de linho e óxido de manganês. As diferentes cores eram aplicadas entre as linhas negras que se evaporavam com as altas temperaturas durante a cozedura, deixando apenas os traços pretos característicos da corda-seca.


Na técnica do alicatado as chacotas eram cobertas com vidrados de uma cor uniforme e cozidos em fornos cerâmicos em altas temperaturas, assim obtendo-se azulejos de uma cor apenas. Sobre esses azulejos desenhava-se formas geométricas que depois eram cortadas com uma picadeira ou um alicate. 



O esgrafitado é uma técnica de decoração que consiste na gravação dos motivos decorativos com o auxílio de uma faca, estilete ou prego, retirando o vidrado e deixando aparecer a chacota.


A técnica da faiança/majólica, criada em Itália, vai revolucionar os azulejos, pois permitirá uma maior liberdade de desenho. Após a 1ª cozedura aplicava-se o pó branco (feito a partir de óxido de chumbo e óxido de estanho), misturava-se o óxido com água e depois pintava-se em cima, a pintura impregnava-se de pó branco rapidamente. Depois fazia-se 2ª cozedura, por vezes, depois da cozedura, as cores mudam, por exemplo, o cinzento torna-se azul e o branco torna-se verde. A ilustração podia ser feita através de uma técnica em que o desenho é lançado a carvão através de papel com o motivo picotado, depois a pintura era aplicada com pincéis.
O cobre e o ferro eram usados para criar efeitos metálicos, pois o óxido de chumbo dava brilho ao azulejo.
Esses efeitos também eram possíveis com o ouro e a prata, no entanto o processo era mais complicado sendo necessária uma 3ª cozedura.
O ferro era também utilizado para reproduzir a cor vermelha, através do uso de uma atmosfera redutora de oxigénio. Para evitar que os azulejos se colassem quando fundiam durante a cozedura inventaram-se equipamentos para os separar, o primeiro denominava-se tremps, mas não era muito eficaz uma vez que danificava os azulejos (estes ficavam sempre com três marcas). Depois criou-se a gazete (um aperfeiçoamento dos tremps, tinha a mesma função mas não marcava as peças).
            Os azulejos chegavam a permanecer durante uma semana na cozedura com 1000°C. Como os fornos eram de lenha as placas de barro eram colocadas em caixas para as cinzas não sujarem os azulejos.
            Antes da aplicação na parede, os azulejos eram colocados em água, no tardoz por vezes eram desenhados números associados a letras que indicavam a posição do azulejo no painel. A letra indicava a fiada vertical e o número a fiada horizontal.



História do azulejo em Portugal

No século XV os azulejos tornaram-se algo indispensável em Portugal, ao longo da 1ª metade do século XVI Portugal encomendava os azulejos em Sevilha e Valência.
Os azulejos portugueses possuíam características específicas e diferentes em relação ao resto da Europa, enquanto na Europa era comum copiarem e reproduzirem gravuras em azulejos, os portugueses modificavam essas gravuras a seu gosto, nacionalizando-as dessa forma.
Em Portugal a função dos azulejos não se resumia a decorar, para além de embelezar espaços de grandes dimensões como salas, os portugueses gostavam de tornar esses painéis dinâmicos e ricos em cor, criavam ilusões de óptica e o estilo era maneirista e retocado.

Uma das peças cimeiras da primeira produção nacional é o painel de Nossa Senhora da Vida (c.1580)




 Na 1ª metade do século XVII os portugueses usavam os azulejos para substituir as tapeçarias, era os chamados “tapetes”. Por vezes combinavam os tapetes entre si para originar novos tapetes, assim havia sempre uma grande variedade de diferentes painéis de azulejos.




Entre 1580 e 1640, o nosso país estava sobre o domínio dos espanhóis, sendo um período difícil, uma vez que a tarefa de decorar as igrejas foi incumbida a simples artesãos sem formação académica. Nesta época é muito frequente a utilização de figuras geométricas, é também o período do azulejo azul e branco. Era comum reproduzirem-se os mesmos padrões em vários painéis, como é o caso das imagens que se seguem. Ambos os painéis apresentados possuem o mesmo padrão, no entanto com a mudança de cor e com um enquadramento diferente transmitem ao observador a ideia de dois painéis completamente diferentes. Podemos então, concluir que a cor é um factor muito importante nos azulejos.






 Os portugueses sentiam-se ameaçados pelos espanhóis, por isso para se diferenciarem de Espanha inventam novos padrões e formas, inspiraram-se na parra espanhola e modificaram-na em busca de dinamização: os enrolamentos das folhas davam a sensação de movimento.




Parra espanhola






Parra espanhola, portuguesa


O século XVII foi o período de maior criatividade dos artesãos: utilizavam enquadramentos e técnicas de compensação visual, como azulejo de padrão: à medida que a parede aumenta o tamanho do padrão também ia aumentando, 4 sobre 4, 6 sobre 6, 12 sobre 12, etc.
 O motivo enxaquetado é tipicamente português, aliado à técnica do alicatado (recortar os azulejos) e misturado com outros motivos era muito utilizado para decorar o segundo nível das igrejas ou grandes extensões de parede como, por exemplo, corredores. Era comum misturarem o alicatado com os motivos dos tapetes.






No ano de 1690 Portugal começa a receber ouro e diamantes do Brasil para ornamentar as igrejas, conventos e outros edifícios de ordem religiosa. Entre 1690 e 1750 as igrejas vão-se remodelar ao estilo barroco, é a época do teatro, e o rei D. João V vai dar um grande uso a esse estilo. As igrejas decoradas com o barroco possuíam características distintas e exóticas, as colunas eram torcidas e muito ornamentadas, existia um grande número de figuras decorativas procurando representar os santos, usavam talha dourada e utilizavam os azulejos em tons de azul e branco e as pinturas para narrar histórias e acontecimentos relacionados com a religião. Os frontões de altar, ou seja o ornamento arquitectónico com formato triangular que encimava a mesa consagrada, onde se celebrava a missa, eram muitas vezes decorados com azulejos uma vez que esta arte decorativa abordava as mais variadas temáticas desde a religiosa, à narrativa histórica passando por temas do quotidiano.
O rococó era o estilo dos nobres, foi inspirado pelo rei francês D. Luís V, ao contrário do barroco, apresenta as colunas lisas, a decoração é mais simples e clássica e os motivos decorativos são mais leves.
Nas igrejas o rei tinha direito à sua própria tribuna, enquanto as clarissas assistiam à missa do coro alto, era comum haver um monge pintado à entrada a pedir silêncio.
A vida da aristocracia, do povo e dos franciscanos (homens que dedicavam a vida a deus) era muitas vezes representada nos azulejos azuis e brancos, estes eram frequentemente usados de forma didáctica.














As casas senhoriais durante o domínio espanhol também eram decoradas com azulejos pintados por artesãos, como é o caso deste painel que adorna uma sala de caça. Embora deixe transparecer a ingenuidade de quem pintou os azulejos também revela a constante procura de dinamizar o retábulo.









Enquanto os holandeses usavam técnicas de desenho e representavam figuras avulsas, os portugueses pintavam a óleo e trabalhavam o cobalto (para obter várias cores e tornar a cozedura das tintas menos complexa). As figuras avulsas consistiam numa composição isolada que cada azulejo representava, (como uma flor, um animal ou até mesmo a descrição de cenas mais complexas) e eram colocados sobretudo em cozinhas e lances de escada mas encontram-se também aplicados à arquitectura religiosa
Os azulejos holandeses possuiam também uma natureza mais “fria” e o enquadramento era simples, os azulejos portugueses era mais vivos e dinâmicos e tinham um enquadramento mais carregado e recortado (só os portugueses conseguiam recortar os azulejos sem os partir ou danificar).









Figuras avulsas holandesas






Azulejos portugueses inspirados pelos holandeses, feitos por um aprendiz






Azulejos holandeses






Azulejos portugueses






Azulejos portugueses recortados






Painel de Lisboa antes do terramoto de 1755, início do século XVII






Pormenor do painel, Biblioteca Real






Pormenor do painel, Torre de Belém




Para acabar com o período de compra aos holandeses e com a época do artesão, as peças começam a ser feitas por pintores com formação académica.

Século XX

Depois do século XVIII assiste-se à constante renovação do azulejo, que vai ser usado para revestir grandes fachadas urbanas, já que a nobreza e o clero deixam de ter o direito exclusivo das encomendas.
Começou a existir uma grande variedade de padronagem executada em fábricas. Não foi, no entanto, abandonada a produção das chamadas “peças únicas”, deixada a cargo de pintores e outros artistas.
No século actual os azulejos continuam a acompanhar a nova estética e os novos gostos e estilos, são usados para decorar grandes espaços urbanos como o metropolitano, o parque das nações etc., os azulejos deixaram, portanto, de ser um factor puramente histórico.






Alguns artistas de grande importância na contemporaneidade são Bordalo Pinheiro, um ceramista que abriu oficina nas Caldas da Rainha, Jorge Barradas que com 50 anos obteve sucesso na cerâmica e na azulejaria trazendo a linguagem moderna, Cecília de Sousa, Maria keili, Querubim Lapa etc. Este último é um actual ceramista e pintor que estudou na Escola Artística Especializada António Arroio, tendo deixado nela obras suas: um moral numa das paredes e na entrada da escola.





"Cabeça" de Jorge Barradas, 1945










A sua obra apresenta várias características distintas, os seus quadros são agressivos na temática e nas cores. Representa temas verdadeiros, adaptados de imagens recolhidas em jornais e revistas e a figura humana aparece apenas esboçada, escondendo-se numa máscara. Essa máscara continua a predominar nos seus trabalhos actuais, no entanto estes perderam a expressão trágica que anteriormente caracterizava a sua pintura.
No final da visita de estudo os professores pediram aos alunos para elegerem uma peça, de que tivessem gostado especialmente, para desenhar.


    Este é o meu desenho:

Ficha técnica:
Jorge Barradas (1894-1971)
"Cabeça"
Faiança modelada e vidrada
1945
Depósito Centro de Arte Moderna
Dr. Azeredo Perdigão

Exploração gráfica de ideias

Estes são alguns esboços de possíveis figuras que farei na disciplina de cerâmica, essas figuras serão modeladas em plasticina branca e não em barro, uma vez que com as obras da escola inacabadas ainda não existem instalações apropriadas para a disciplina.

Todos os meus desenhos possuem elementos relacionados com a "cobra", pois, de acordo com o meu conceito, a cobra é a personificação do medo e a plasticina vai ser modelada e transformada por acção desse medo. 

Começo os meus esboços com um simples paralepípedo, este sofrerá metamorfoses constantes, mudando de forma diversas vezes por acção da cobra que está sempre presente em todas as peças.

































Nota: nenhum destes esboços é definitivo, poderão ser alterados.


Selecção e desenvolvimento de uma ideia







































Realização



Durante a aula de cerâmica realizada no dia 8 de Outubro os professores demonstram-nos como trabalhar o barro, as ferramentas a utilizar, as suas funções, e alguns aspectos a ter em consideração em relação à cozedura e à secagem do mesmo.


Utensílios:
-lambugem (fig.1), barro diluído com água cuja função é colar o barro, possui baixa temperatura;
-teques de escavar (fig.2), para cortar, fazer incisões ou alisar superfícies;
-lâmina (fig.2), para cortar, alisar ou dar texturas;
-faca (fig.2);
-teque de modelar (fig.2), para modelar e substituir os dedos;
-rolo da massa, para fazer lastras/placas  (fig.2 e 3);
-réguas de madeira ou de plástico (fig.3), a sua funcionalidade é dar a espessura do barro;
-garroto (fig.4), fio de nylon (com dois nós ou bolas de barro nas extremidades para facilitar o seu uso), serve para cortar o barro;
-rim, a sua função é alisar superfícies.

fig.1

fig.2

fig.3

fig.4

Técnicas para modelar o barro:

Técnica da lastra

Colocamos as réguas, uma de cada lado do barro e, com o rolo da massa passamos por cima de ambos para alisar o barro, desta forma este irá adquirir a mesma espessura das réguas.
Esta técnica é utilizada para fazer construções planas em que são necessárias superfícies lisas, como por exemplo o cubo.
Para fazer um cubo corta-se no barro já nivelado, quatro faces quadradas, estas serão coladas com o auxílio da lambugem e, depois de retirados os excessos, formarão um cubo perfeito.





Técnica dos rolos

Esta técnica é adequada para fazer peças assimétricas e orgânicas.
Tal como na técnica anterior, utiliza-se as réguas e o rolo da massa para fazer a base do objecto.
Com as mãos, fazem-se rolinhos de barro.





Fazem-se incisões no rolo de barro e na base e depois aplica-se a lambugem. De seguida vai-se colando os rolos sobrepostos, não sendo, nestes, necessário fazer incisões em ambos os lados como auxílio na colagem do barro.







Trabalhar com o barro

Para amassar deve-se enrolar o barro e evitar que este forme bolhas de ar, quando isso acontece é necessário perfurá-las, caso contrário, a peça corre o risco de rebentar durante a cozedura.
Para fazer texturas pode-se usar diversos objectos, como conchas, pedras, cestos de vime, linhas etc. Podemos também utilizar instrumentos como o teque de modelar ou de escavar ou uma faca.




Para facilitar a colagem de superfícies fazem-se incisões no barro e aplica-se a lambugem.

 
Para colar superfícies planas convém esperar que estas sequem durante algum tempo para que endureçam.

Cozedura dos óxidos
Se colocarmos uma peça com muita espessura no forno demorará imenso tempo para cozer, por isso o seu interior deve ser retirado. Quando os objectos são ocos e fechados devem-se perfurar para que o oxigénio possa libertar-se, senão o objecto rebenta na cozedura.
Na sua secagem, o barro perde a humidade contraindo e mudando de cor (ex: o barro vermelho contrai cerca de 10%). Se a secagem for feita primeiramente ao ar livre a peça não pode estar sujeita ao sol nem ao vento pois assim cria fendas.  Com uma secagem demasiado rápida a peça pode estalar, logo a cozedura deve ser controlada.
Não podemos ligar o forno com a temperatura final (1000°C), a peça deve ser cozida através de uma técnica denominada “patamares de secagem” que consiste em ligar o forno a 50°C durante 2h, depois 100°C durante 2h e assim sucessivamente até atingir os 200 ou 300°C, a partir de 550°C o barro seca, pois só com essa temperatura é que humidade sai.
Chama-se chacota ao barro depois de cozido.

Cores do barro
O barro varia consoante a percentagem de compostos de ferro e de outros minerais que possui, dos quais a cor depende, por essa razão o barro apresenta cores variadas:

Óxido de ferro - barro vermelho e castanho
Óxido de estanho - barro branco
Óxido de cobre - barro verde
Óxido de cobalto - barro azul
Óxido de chumbo - dá brilho
Óxido de manganês - barro castanho arroxeado
Óxido de crómio - barro verde seco




Apresentação final

Tal como já referi anteriormente, devido à falta de instalações necessárias para trabalhar as peças em barro, esta foram concebidas em plasticina branca. O trabalho foi desenvolvido durante uma das aulas de cerâmica.

As fotografias das peças em plasticina branca foram fotografadas num fundo igualmente branco (duas folhas A3), o objectivo desta igualdade de cores é conseguir que a peça se destaque do plano de fundo através das sombras projectadas por ela mesma.
Através de uma sequência de fotografias tiradas durante as várias fases de desenvolvimento da peça, a ideia transmitida é a de movimento e de metamorfose, pois o resultado é semelhante a uma película de filme.


Depois de obtermos a peça final (ou seja o fim da metamorfose do objecto) os professores pediram-nos para representar as suas vistas, o seu lado esquerdo e direito, a sua frente e a sua vista de cima.

Vista de frente



Vista posterior



Vista de Cima



Direita vista lateral



Esquerda vista lateral



Peça Final


Escrevi este texto com o intuito de descrever a forma de apresentação do trabalho que desenvolvi. O que faço de seguida:
            Levo uma caixa nas mãos que pouso na secretária. Nos bolsos tenho três chaves e coloco-as, uma a uma, na carteira da frente. Todas as chaves estão etiquetadas, a chave do desespero é a maior e a mais pesada, a chave do receio é a média e tem um peso moderado e a chave da confiança é a mais pequena e leve.
            A caixa referida está trancada com um cadeado primitivo indiano, o meu objectivo é demonstrar que para combater o medo é preciso usar a chave certa. Como é óbvio todas as chaves vão falhar à excepção da chave da confiança que é a resolução para todos os meus problemas relacionados com o medo.
            Assim, eu abro a caixa e enfrento o meu medo, para findar a apresentação abandono as chaves rejeitadas e guardo a confiança junto ao coração. 



O simbolismo da apresentação

Chave do desespero: é a maior e a mais pesada porque é um sentimento que quando ligado ao medo causa muitos estragos, tanto a nível físico como mental, logo não pode ser usada para combater o medo (daí ser uma chave absurdamente grande para caber no cadeado).

Chave do receio: é uma chave média em tudo, no peso e no tamanho, uma vez que está directamente relacionada com o medo, logo não pode ser usada para abrir a caixa.

Chave da confiança: é a chave mais leve e indicada para abrir a caixa e enfrentar os nossos medos, é a resolução para todos os meus problemas e receios.

Caixa: a misteriosa caixa representa o medo sobre estado de pressão, o seu interior só é revelado após ser aberta com a chave correcta.

Construção da caixa: 




dobradiças e trinco da caixa






 Construção da cobra:



mola (cuja funcionalidade é fazer com que a cobra salte da caixa)



corpo da cobra, em tricot




cobra concluída


Cadeado indiano: é muito primitivo e fraco, ele simboliza a fragilidade do cadeado com que trancamos o nosso medo.


Memória Descritiva

 
Desafio

            No âmbito da disciplina de Projecto e Tecnologias foi lançado o desafio “Acordar diferente” baseado na obraA Metamorfose” de Franz Kafka.

Tema – Um Acordar Diferente – “A Metamorfose” de Franz Kafka
 “Um dia de manhã, ao acordar dos seus sonhos inquietos, Gregor Samsa deu por si em cima da cama, transformado num insecto monstruoso. Estava deitado de costas, sentia a carapaça dura e, ao elevar um pouco a cabeça, via a barriga arredondada, de cor castanha, dividida em faixas rígidas arqueadas, e no alto dela a coberta da cama em equilíbrio instável, quase a resvalar. As muitas pernas, penosamente finas em comparação com a sua actual corpulência, tremiam diante dos seus olhos perplexos. (…)” (“A Metamorfose”, Franz Kafka)
O desafio consiste em criar um conceito sobre um “Acordar diferente”, desenvolvê-lo (através da pesquisa de imagens, textos, poemas, excertos do livro em questão, etc.) e expressá-lo através de uma figura em cerâmica.

O meu primeiro conceito

Quando o desafio foi lançado a minha resposta inicial estava relacionada com uma metamorfose muito recente na minha vida, a mudança de escola. Por essa razão nas primeiras aulas trabalhei esse conceito:
“Hoje acordei diferente, acordei numa cama diferente, num quarto diferente e preparei-me para mais um dia numa escola diferente.
Acordei mais decidida e mais forte, porque o meu desejo não é estar nesta escola, o meu desejo é merecer estar nesta escola.”
Registei graficamente divisões da nova casa em que estou a viver e os objectos que me rodeavam, pois agora, tudo à minha volta é diferente.
No entanto, no desenvolver do conceito, os professores consideraram que dentro da minha resposta seria mais interessante trabalhar o medo dessa mudança e dessa diferença… Assim registei as minhas ideias relativas à minha nova resposta através de desenhos novos e de um texto poético.
  
Conclusão

Com a realização deste trabalho concluí que, face a tudo o que foi pedido durante as aulas de Projecto e Tecnologias (explorar o nosso conceito e expressá-lo através de uma peça feita em plasticina), alcancei os meus objectivos, pelo menos no que toca a eu própria entender o meu conceito e conseguir combater o problema que nele residia.
O trabalho feito durante esta disciplina foi importante para mim tanto a nível profissional como pessoal, pois tornei-me mais apta a receber opiniões e a integrá-las no meu projecto e aprendi como trabalhar o barro e os utensílios que se podem utilizar para esse fim. Assimilei conhecimentos em vários campos da cerâmica, desde a sua história e origem etimológica, às suas técnicas e ceramistas famosos.
No entanto não consegui alcançar os meus objectivos na sua plenitude, uma vez que considero que o meu trabalho prático não me satisfez totalmente, não por falta de aplicação da minha parte, mas pela falta de engenho que tenho nesta área artística.
A minha forma de trabalhar pode ser, sem dúvida melhorada, mas estou certa que me entreguei a este trabalho, principalmente devido ao tipo de conceito que desenvolvi com o auxílio dos professores.
 No futuro espero que o meu produto final corresponda aos projectos que fiz, se isso não acontecer apenas estarei a aperfeiçoar as minhas técnicas até que um dia me sinta feliz com resultado, mas eu nunca me vou contentar por inteiro porque quero continuar a experimentar e a aprender.