Têxteis

-Módulo 5-

 
Aula de projecto 1

O tempo disponível para  primeira aula deste periodo foi maioritariamente destinado à explicação e orientação dos alunos, dirigida pela psicóloga da escola, relativamente ao curso a escolher para o ano.
Após este esclarecimento, os professores apresentaram à turma o novo e quinto módulo, Têxteis, e lançaram o desafio.
Como o terceiro período é muito reduzido, as habituais seis aulas destinadas ao desenvolvimento do produto final em tecnolgias, serão substituídas por apenas três aulas, este acontecimento contribui para certas mudanças:

- o trabalho de cada aluno fará parte de um trabalho colectivo em que todos os elementos da turma vão participar

-a exploração gráfica será realizada sobre o diário gráfico, onde realizaremos as várias acções que existem na disciplina de têxteis

Desafio

Tema – “A Metamorfose” de Franz Kafka
« (…) A senhora Samsa e Grete curvaram-se sobre as suas cartas, como se quisessem continuar a escrever; o senhor Samsa, reparando que a mulher-a-dias já se estava a fazer para contar tudo em pormenor, levantou decididamente a mão, não a deixando sequer começar. Impedida de contar o que quer que fosse, a mulher lembrou-se subitamente da pressa que tinha e exclamou, obviamente ofendida:
- Adeusinho a todos. (…)» (“A Metamorfose”, Franz Kafka)

Etapas do Trabalho

  1. DesafioO fim deste teu tempo de metamorfose aproxima-se… o que gostarias de contar a ti mesmo(a) sobre o que de ti descobriste, quando daqui a uns largos anos tropeçares nas tuas memórias? Procura traduzir este nov desafio através do desenvolvimento de objectos tridimensionais têxteis, a serem explorados no teu diário de projecto.  
  2. Conceito – regista as tuas ideias por meio de um texto.
  3. Referenciais a utilizar na exploração do conceito – explicita os teus referenciais (trechos do livro de Franz Kafka, textos de autores vários que abordem o tema da metamorfose, imagens, …).
  4. Pesquisa – realiza uma investigação sobre a produção artística ao nível dos têxteis que se relacione com o tema da metamorfose.
  5. Exploração de ideias – explora graficamente várias possibilidades, por meio do registo e da inclusão de formas, texturas e materiais, com vista à construção de objectos tridimensionais têxteis.
  6. Selecção e desenvolvimento de uma ideia – opta pela proposta que pareça mais conseguida e desenvolve-a, explorando possibilidades diversas, bem como apresentando os textos e desenhos necessários à sua plena compreensão.
  7. Realização – a execução será levada a cabo nas sessões oficinais, usando o diário de projecto de cada aluno (incluir registos fotográficos das peças, bem como do seu processo construtivo, no portefólio).
  8. Apresentação final

O queres deixar como mensagem?

       Depois Dela, mais nova, mas mais sábia, me falar lá das alturas, rejeitei, de imediato, o soro frívolo. O café que me corria nas veias evaporou-se, permitindo que o ideal primitivo se instalasse novamente com o ecoar da palavra “flexibilidade”.


O Meu Conceito


Bebia calmamente um café. Não gosto de café, só quando amenizado por outro sabor, bebo-o com leite, com açúcar, com natas ou até mesmo com chocolate, qualquer coisa doce que consiga erradicar esse amargo horrível, que faz uma pessoa estremecer só com a recordação do aroma. É, mas eu estava a beber café, café puro, desse mesmo forte, que não serve só para despertar, pois causa uma dor de cabeça tão grande que nos mantém acordados o dia inteiro.
Era de manhã, muito cedo, tinha que ir trabalhar, não sei qual é o meu trabalho, juro que não sei. De qualquer forma, apressei-me, bebi o resto do café num só gole e tentei, em vão, dissimular uma careta de desagrado quando o acre escorreu pelas minhas insatisfeitas papilas gustativas.
Ainda segurando a chávena de café vazia, olhei para o vestíbulo e reconheci a porta que dava entrada para a minha casa. Reconheci-a de sonhos, daqueles em que imaginamos a nossa vida futura, em que temos visões de uma vivenda utópica que será o nosso lar, com grandes janelas de vidro, muita luz e varandas, longe do centro urbano mas sem, no entanto, estar perdida no meio de nenhures.
Por baixo da porta acumulava-se publicidade, costumava guardar esses papéis coloridos, adornados com letras e cabeçalhos gigantescos de cores berrantes numa gaveta da cozinha. Quando o dia corria bem, lia-os atentamente, quando tinha menos paciência, iam direitos para o papelão.
Mas, desta vez, não havia apenas panfletos e propaganda, o topo daquele festival de anúncios era coroado por um elemento que se distinguia devido à sua carência de cor: uma carta branca.
“Uma carta? Mas quem manda cartas hoje em dia? Há tanto tempo que não recebia uma, nem no Natal, nem na Páscoa, nem em altura nenhuma…” O meu coração encheu-se de nostalgia ao recordar um passado distante e agarrei a carta sem prestar atenção ao restante correio, cuja cor parecia desvanecer perante a imaculabilidade que esta exibia.
 O endereço fora escrito a tinta branca, franzi as sobrancelhas perante o esforço que me foi exigido para decifrar a frase, mas, embora devagar, acabei por concluir a minha tarefa com sucesso: “A mim Própria” gritava a cifra, provocando o meu senso.
Finalmente, um laivo de reconhecimento acendeu-se no meu cérebro, alastrando como um incêndio pelo resto do meu corpo, ordenando às mãos para pousarem a odiosa chávena de café no chão e abrirem rapidamente a carta.
Movida por uma súbita e ávida curiosidade, revelei o tesouro que o envelope guardava: uma folha de papel meticulosamente dobrada sobre si mesma. Desdobrei-a e, ao descobri-la branca, tal como o resto da carta, virei-a e tornei a virá-la em busca da mensagem.
E revi-me Nela, que, não obstante a sua diminuta altura e a roupa exageradamente colorida que envergava, possuía uma aparência ameaçadora. Batia um pé, impacientemente, em cima de um banco de pernas altas.
-Que estás a fazer? _ A sua voz aguda e indignidade ecoou como se estivesse a clamar do alto dos Alpes. _ Em ti, onde estou eu? Em mim, que fazes tu? Quero te lembrar de como eras, quando eras eu e quero que me digas o que és agora, depois de seres eu. _ Acompanhou a sua explicação com gestos, apontando alternadamente para mim e para si mesma.
Foi nessa altura que A recordei, e consegui olhar para mim através dos seus olhos turvos que se enchiam de lágrimas de raiva, e sabem o que eu vi? Vi uma vulgar mulher de 46 anos, vestida da forma vulgar de uma mulher de 46 anos, numa casa vulgar de uma mulher de 46 anos, ajoelhada no meu vestíbulo vulgar, sobre o meu tapete vulgar e acompanhada por uma horridamente vulgar xícara de café. E nesse momento eu chorei também e abracei a minha reminiscência, levantando-a bem alto do seu poiso instável, segurando-a cuidadosamente entre as minhas mãos, pouco maiores que as Dela.
_ Tinha saudades tuas… _ disse alto, para que o mundo me ouvisse.
_ Pois eu não tive nenhumas. _ Sorriu de forma atrevida enquanto pegava na chávena de louça e a atirava com leveza em direcção à parede mais próxima. O café que, julgava eu, ter bebido todo, escorreu pela parede e inundou a casa até me chegar aos joelhos e foi com esse líquido quente, a escaldar-me as canelas, que eu deixei de me sentir vulgar para me sentir flexível.


Pesquisa

Aula de tecnologias 1


Durante a primeira aula da nova tecnologia, realizada a 29 de Abril, após as habitais apresentações, os professores Ana Gonçalves e Orenzio Santi fizeram uma introdução ao tema Têxteis com vista a contextualizar os alunos na disciplina.
         Têxteis é uma área vasta que abrange várias outras áreas (como por exemplo a Ourivesaria). Esta polivalência, característica desta expressão artística, permite a conjugação de várias áreas com os Têxteis, resultando numa maior diversidade de produtos, feitos com grande variedade de materiais.
            Para além deste poder de versatilidade, os Têxteis, possuem um relevante papel para o ser humano, uma vez que detêm uma forte ligação com as nossas necessidades do dia-a-dia, como por exemplo, o facto de necessitarmos de roupa para vestir, nas palavras dos professores, “os Têxteis são a nossa segunda pele”.
            Esta disciplina pode ser dividida em várias partes consoante o nosso ponto de vista. Duas das vertentes que estão presentes nesta área são o seu carácter cultural e os Têxteis enquanto arte plástica. No que toca ao multiculturalismo, devemos considerar os Têxteis de várias zonas do mundo, contendo práticas desta área originárias de povos que a usam para expressar as suas histórias, as suas crenças e a sua religião, por outras palavras, a sua cultura. A vertente de Têxteis como arte plástica está relacionada com a expressividade do artista, com a sua linguagem própria e com as mensagens que pretende transmitir etc.
            É de referir, também, a relação que as artes plásticas, incluindo os Têxteis, têm com o design.
            No desenvolvimento, da aula foi apresentado um powerpoint tendo como objectivo facilitar a integração da turma na nova disciplina.
            Nesta apresentação, os professores enumeraram as principais técnicas utilizadas, deram exemplos de materiais que podem ser usados e referiram alguns dos equipamentos necessários para o desenvolvimento do nosso produto.
            Esses materiais são divididos em dois grupos: os materiais convencionais (como por exemplo a lã e o algodão) e os materiais não convencionais (como o esfregão de arame e a rede). O facto desta disciplina, como tantas outras, aceitar materiais não convencionais, permite a reutilização de vários objectos.
            Algumas das técnicas e processos utilizados são a tecelagem, a estampagem e técnicas mistas.
            Apresento em seguida um pequeno glossário das acções realizadas no âmbito de Têxteis:
Aplicar: pôr ou ajustar (uma coisa sobre outra); sobrepor, justapor
Bordar: ornar de desenhos feitos à agulha; guarnecer a borda de; fazer bordados
Colar: pegar com cola; ajustar, ligar; aplicar sobre; juntar cola para dar consistência; assentar, ficar, adaptar-se
Coser: dar pontos de agulha em; costurar
Desfiar: fazer fios de; desfazer (em fios); desfazer-se em fios (o tecido)
Enchumaçar: pôr chumaço em; almofadar; estofar
Engomar: passar a ferro a roupa metida em goma; dar goma a
Entretecer: tecer fios de diferentes cores ou várias coisas entre si; entrelaçar
Forrar: pôr forro em;  colocar um revestimento em, cobrir, revestir
Franzir: dispor em pregas; enrugar
Tie-dye: amarrar o tecido de formas diferentes e tingi-lo
Tingir: meter ou molhar em tinta, alterando a cor; colorir
Pespontar: coser a pesponto; dar pesponto em
Pontear: marcar com pontos; coser; alinhavar
Rasgar: romper, lacerar, abrir rasgão
Recortar: cortar uma figura pelos contornos para a separar do fundo; fazer recortes em
Revestir: vestir novamente
Sobrepor: pôr em cima ou por cima de; justapor; encostar; acrescentar; juntar
Stitch: o mesmo que coser
Ao longo deste módulo, os professores esperam que a turma explore as qualidades formais, plásticas e expressivas dos materiais e das técnicas. Pois consoante as técnicas e os materiais que utilizamos podemos transmitir melhor a ideia na qual se baseia o nosso conceito, um exemplo disso é o emprego da acção de sobrepor cuja aplicação dos materiais por camadas pode ser facilmente associada ao passar do tempo.
            Depois desta explicação, foram exibidos exemplos de artistas desta área bem como os seus trabalhos inseridos nas acções acima apresentadas. Segue-se a lista desses autores:
Joana Vasconcelos
            Nasceu em Paris a 8 de Novembro de 1971, é uma artista plástica contemporânea portuguesa.
            Nas suas obras, esta artista, apropria-se de objectos do quotidiano, sendo por isso facilmente identificáveis, alterando-lhes a sua identidade e a sua funcionalidade primitiva através de várias operações como o efeito de série e a repetição, a acumulação, as associações cromáticas e a descontextualização. Com o seu trabalho, a autora pretende quebrar a barreira que existe ente a vida do dia-a-dia e a arte.


Rosemarie Trockel
            Nasceu na Alemanha a 13 de Novembro de 1952 e é considerada uma importante figura internacional, representante do movimento da arte contemporânea.
Nas suas obras, a artista formula confrontos entre a mentalidade artística masculina através do uso de temas femininos, reflectindo um mundo artístico predominantemente feminino. Estes ideais foram inspirados na superioridade masculina na arte dos anos 80.


Sleeping Pill
Christo e Jeanne-Claude

Christo Vladimirov Javacheff nasceu em Grabrovo em 13 de Junho de 1935 e Jeanne-Claude Denat de Guillebon nasceu no mesmo dia em Casablanca, são um casal de artistas.
O seu trabalho prende-se em criar instalações de arte ambiental, caracterizadas pela cobertura de pontes, costas litorais, grandes edifícios, etc. Os seus trabalhos são assinados conjuntamente.



Surrounder Islands
Miami, Florida, 1980-83

Maria Lai

            Nasceu em Ulassai em 27 de Setembro de 1919 e é uma artista italiana.



Tenendo per mano il sole
1983

No decorrer da aula, os professores mencionaram vários tipos de manifestções artísticas, entre elas,  a chamada “Arte Póvera” que consiste na procura e utilização de materiais não convencionais (como corda, areia, trapos, jornais, etc.) de forma a empobrecer as obras e a suprimir a fronteira que existe entre a arte e o quotidiano. Este movimento artístico nasceu na Itália e desenvolveu-se na segunda metade da década de 60; na década de 70, os artistas tornam a recorrer a materiais desta natureza, mostrando, mais uma vez, o empobrecimento da sociedade que se rege pelo valor material.O termo arte Póvera foi criado pelo crítico Germano Celant em 1967, por ocasião das exposições realizadas por estes artistas.



Margarida com fogo
Jannis kounellis
Para finalizar a aula, os professores apresentaram trabalhos dos alunos do 10º , realizados com diversos materiais  tendo, como suporte, o diário de projecto.

Semana 1
Nesta semana procurei por referenciais para o desenvolvimento do meu conceito, fiz uma pesquisa com o objectivo de me contextualizar na nova disciplina e de me inspirar no trabalho de artistas dessa área. Inicei, também, a exploração gráfica da minha resposta ao desafio.

Referenciais:
 

Para explorar o meu conceito (a flexibilidade como uma forma de me manter fiel a mim mesma) procurei vários tipos de referenciais escritos: um trecho d’”A Metamorfose”, um poema, uma reflexão do Imperador Romano Marco Aurélio e uma citação de Charles F. Kettering.
 A pedido dos professores, apresento os meus referenciais gráficos, ao contrário do que aconteceu nos anteriores módulos, feitos pela minha mão, no meu diário de projecto, são reproduções de várias pinturas, uma escultura, uma cadeira, uma pulseira de fio e uma tapeçaria. As legendas, pertencentes a cada imagem, foram introduzidas no meu registo de modo a fazerem parte do próprio grafismo do referencial.

-Excerto d'A Metamorfose

"No entanto, embora àquela hora o pai costumasse ler o jornal em voz alta para a mãe e eventualmente também para a irmã, nada se ouvia. Bom, talvez o pai tivesse recentemente perdido o hábito de ler em voz alta, hábito esse que a irmã tantas vezes mencionara em conversa e por carta. Mas por outro lado reinava o mesmo silêncio, embora por certo estivesse alguém em casa."
Página38

Identifico este excerto da obra com a minha resposta ao desafio, uma vez que, reflecte sobre a mudança de hábitos a que uma pessoa se sujeita com o passar dos anos e com o surgimento de novos acontecimentos.
Eu desejo permanecer uma pessoa fiel a mim mesma, por outras palavras, quero continuar a sentir-me “eu” daqui a trinta anos. Não digo que não me modifique, já que é evidente que a minha personalidade ainda está em construção, mas quero manter o espírito criativo que a idade juvenil me proporciona. Em suma, quando chegar a adulta, quero continuar a possuir essas qualidades mais “infantis” que me ajudam a enfrentar os problemas do dia-a-dia sem o pessimismo convencional.

-Textos

A Fidelidade a Nós Próprios

De certo modo, o homem é um ser que nos está intimamente ligado, na medida em que lhe devemos fazer bem e suportá-lo. Mas desde que alguns deles me impeçam de praticar os actos que estão em relação íntima comigo mesmo, o homem passa à categoria dos seres que me são indiferentes, exactamente como o sol, o vento, o animal feroz. É certo que podem entravar alguma coisa da minha actividade; mas o meu querer espontâneo, as minhas disposições interiores não conhecem entraves, graças ao poder de agir sob condição e de derrubar os obstáculos. Com efeito, a inteligência derruba e põe de banda, para atingir o fim que a orienta, todo o obstáculo à sua actividade. O que lhe embaraçava a acção favorece-a; o que lhe barrava o caminho ajuda-a a progredir.

Marco Aurélio (Imperador Romano), in "Pensamentos"

Café Amargo

bebo
café amargo
para ver se acordo
se desperto
 para a realidade
queria que fosse um sonho
mas não é
bebo
café quente
amargo
queria beber leite
gelado
e doce
na cozinha de casa
bebo café amargo
para me sentir vivo
com a boca queimada
e a língua amarga
bebo café
para me inserir
neste mundo
que não é meu

Eduardo Santos
www.resticenciaspoeticas.blogspot.com




-Imagens


Spurt
Rodion Kachanoff


Trance
Victor Okert




Breakfast of the gentleman
Jacob Sokirkin


Decadence 3
Vekhov Vladimir

How the cat lodges in the kicthen
Lonli Lola


Cadeira vermelha
Manufatura Edra Mazzei (Itália)



Bracelete de fios e linha
Ceca Georgieva


Tapeçaria de Genaro
Genaro de Carvalho



Exploração de ideias









Realização (da exploração gráfica)


Aula de Projecto 2

Nesta aula continuei a explorar o meu conceito através da utilização de acções próprias da disciplina de têxteis (como colar, coser, rasgar etc.).







Aula de tecnologias 2

Continuação da exploração gráfica, experimentação da técnica do stencil.





Semana 2

Continuei o trabalho de exploração gráfica em casa e comecei a preparar o portefólio.


Aula de projecto 3

Continuação da exploração gráfica.








Aula de Tecnologia 3

Continuação da exploração gráfica.
Selecção de ideias.









Selecção e desenvolvimento de uma ideia















Semana 3

Continuação da exploração de ideias e da selecção e desenvolvimento de uma ideia.
Realização do Produto final.
Conclusão do portefólio.












































Realização






















Memória descritiva

 
Desafio
            No âmbito da disciplina de Projecto e Tecnologias foi lançado um desafio, baseado na obra “A Metamorfose” de Franz Kafka. Que consiste em responder à pergunta: “o fim deste teu tempo de metamorfose aproxima-se… o que gostarias de contar a ti mesma sobre o que de ti descobriste, quando daqui a uns largos anos tropeçares nas tuas memórias?”.

Tema – “A Metamorfose” de Franz Kafka
« (…) A senhora Samsa e Grete curvaram-se sobre as suas cartas, como se quisessem continuar a escrever; o senhor Samsa, reparando que a mulher-a-dias já se estava a fazer para contar tudo em pormenor, levantou decididamente a mão, não a deixando sequer começar. Impedida de contar o que quer que fosse, a mulher lembrou-se subitamente da pressa que tinha e exclamou, obviamente ofendida:
- Adeusinho a todos. (…)» (“A Metamorfose”, Franz Kafka)

 Neste quinto módulo, devíamos fazer um conceito que respondesse à pergunta do desafio, desenvolvê-lo (através da pesquisa de imagens, textos, poemas, excertos do livro em questão, etc.) e expressá-lo através de um produto final realizado no âmbito da nova disciplina de Tecnologias: Têxteis.
A exploração de ideias podia incluir objectos tridimensionais trabalhados sobre o diário de projecto. O produto final podia ser uma peça tridimensional, independente do diário de projecto ou, tal como aconteceu com a exploração e selecção de ideias, podia ser desenvolvido tendo como suporte o diário.

A minha resposta

            Após ser lançado o desafio, desenvolvi a minha resposta inicial, a qual transcrevo a seguir:
            «Depois Dela, mais nova, mas mais sábia, me falar lá das alturas, rejeitei, de imediato, o soro frívolo. O café que me corria nas veias evaporou-se, permitindo que o ideal primitivo se instalasse novamente com o ecoar da palavra “flexibilidade”.»
            Na resposta acima descrita, existem variados simbolismos, que passarei a explicar: trata-se de um confronto da minha personalidade actual com a minha personalidade mais matura, estabelece-se uma ligação em que eu acabo por concluir que, apesar de ser mais nova, sou mais sensata em alguns aspectos do que, provavelmente, serei, daqui a uns anos. Com isto quero dizer que, quando entrar na idade adulta, vou sentir aquele antigo medo que quase todos temos nessa altura e vou esquecer o que aprendi ao longo deste primeiro ano nesta escola sobre o “dever arriscar”, sobre “acordar diferente”, sobre abrir novas portas e passear em vários caminhos, sem receio do que possa encontrar.
 Por esta razão, alegro-me com a oportunidade de deixar esta “cápsula do tempo”, para me devolver algum do juízo que eu recebi durante todos estes módulos, para não desprezar as marcas que estes me deixaram.
Neste confronto, o meu eu actual, repreende o meu eu de 46 anos, por beber café, ou seja, beber o que todos neste mundo bebem.
 Com o desenvolver do meu conceito, acabei por encontrar a resposta para o problema que eu me coloco a mim própria: para evitar o usual, devo ser flexível, só com a versatilidade serei capaz de viver sem depender da cafeína que me vicia.
Após a reflexão sobre a questão lançada como base do desafio, comecei por definir o conceito que, em termos gerais, incide sobre o meu desejo de manter a fidelidade que eu afirmo ter por mim mesma e não permitir que os meus ideais mais primitivos se alterem.
 A partir desse conceito, iniciei a clarificação dos referenciais implícitos, um trecho d’”A Metamorfose”, um poema, uma reflexão do Imperador Romano Marco Aurélio e uma citação de Charles F. Kettering.
Por se tratar da tecnologia de Têxteis, fui realizar uma pesquisa sobre objectos e produtos da mesma, tendo incidido esta, sobre alguns dos artistas que os professores desta área nos indicaram, como Joana Vasconcelos, Louise Bourgeois, Rosemarie Trockel, Christo e Jeanne-Claude e Maria Lai.
Considerei particularmente interessante a autora portuguesa, Joana Vasconcelos, pelo facto de utilizar objectos do quotidiano e modificá-los, alterando-lhes a sua função inicial, ao revesti-los com outros materiais, como por exemplo, a renda.
De seguida, iniciei a exploração de ideias para a minha intervenção, tendo valorizado o confronto entre a flexibilidade e o café, o qual representei, principalmente, através do contraste de cores.
 Após esta exploração que foi feita através das mais variadas acções constituintes do glossário de Têxteis, desde colagens de tecidos e papel, pinturas a aguarelas, tranças de lã, peças cosidas e enchumaçadas com algodão, a recortes, pasta de papel e dobragens, decidi escolher e desenvolver a ideia de cápsula do tempo, em que eu guardo o que considero precioso porque as explorações de ideias que eu realizei neste sentido se revelaram mais produtivas e interessantes, relacionando-se com o meu conceito de uma forma mais profunda e intensa.
Do desenvolvimento da ideia seleccionada, cheguei a uma solução ou proposta final, em que há a assinalar a forma semelhante a uma cabaça, essa forma foi o resultado da minha vontade, uma vez que, para mim, a cabaça tem um valor familiar intemporal, recorda-me o antigo e o seu feitio arredondado e natural está enquadrado à função que lhe atribuo: conservar o meu juízo. Apresenta vários padrões de tecidos, quatro no exterior e um no interior. Estas cores transmitem a minha forma de ver o mundo, pois, na minha idade, considero que existe uma maior facilidade em ver o mundo colorido. A cabaça foi enchumaçada com papel de rolo de cozinha e não com o habitual algodão o que lhe confere uma nova sensação táctil menos reconhecida e convencional. Uma renda envolve a cabaça, a sua função, para além de técnica (pois ajuda a peça a manter a forma desejada) possui também a carga emocional ligada ao presente, ao mais jovem. A pequenez que conferi ao meu produto final deriva da minha própria estatura (uma vez que não sou muito alta), pois eu assumo-me como a própria cápsula do tempo, ou seja, a cabaça é a representação do meu eu actual.
Após a apresentação e discussão das minhas propostas, passei à sua realização. Neste processo verifiquei que o produto final se aproxima da proposta que tinha em mente.

Aspectos dignos de registo

Durante o desenvolvimento deste trabalho considerei particularmente interessante a adaptação dos Têxteis a materiais não convencionais e o cruzamento desta, com outras áreas, o que resulta numa maior variedade de peças que se diversificam não só nos materiais mas também nas linguagens próprias de cada autor.
Lamento o facto de o máximo das aulas leccionadas na disciplina de tecnologias terem sido três, o que não permitiu a turma ficar plenamente inteirada de algumas técnicas que foram abordadas teoricamente mas nunca praticamente, como é o caso da tecelagem.

Conclusão

            Com a realização deste trabalho, enriqueci, mais o uma vez, tal como aconteceu nos anteriores módulos explorados, o meu nível de conhecimento geral, ao aprender mais sobre a disciplina artística de Têxteis, pois, os professores responsáveis, informaram-me não só relativamente às inúmeras técnicas que nos são possibilitadas, dado a natureza dos materiais com as quais trabalhamos, como também nos forneceram uma lista de personalidades, autores de obras realizadas no âmbito desta área.
Os assuntos tratados neste módulo, estimularam o meu interesse, uma vez que, devido às explicações prestadas pelos professores, me apercebi da importância dos Têxteis para o ser humano, sendo algo indispensável para a nossa vida já que, como pude verificar, na grande maioria do nosso quotidiano, esta disciplina encontra-se presente de forma insubstituível (como é o caso do vestuário).
Considero-me uma pessoa empenhada, pois o conceito que optei por desenvolver possui um carácter íntimo que partilha com os meus anteriores conceitos. Pois entendo que a profundidade que o conceito nos inspira é a principal fonte estimulação da nossa criatividade, funcionando como um incentivo do desenvolvimento de ideias e convertendo o trabalho mais árduo e complexo um pouco mais apelativo.
Olhando para o trabalho que realizei, entendo que são aspectos fortes o facto de, finalmente, me ter conseguido abstrair das imagens figurativas que habitualmente desenvolvo para ilustrar o meu conceito e, recorrer, cada vez mais, à representação de uma natureza abstracta para transmitir as minhas ideias.
Posso concluir que, apesar de lamentar o tempo limitado que nos foi disponibilizado para conhecer a disciplina, nestas seis aulas de trabalho um pouco mais intensivo que o habitual, aprendi a retratar o meu pensamento de uma forma mais penetrante que, embora para um observador itinerante não passe de um uma peça que lhe desperta sentimentos agradáveis ou desagradáveis, para mim, é toda uma pessoa representada num objecto. É a conservação dos meus 16 anos, pois eles vão ficar ali guardados para sempre, à espera que, daqui a 40 anos, eu os reveja e me inteire de quem fui, pois quer me encante ou repugne, isso sou eu, e eu não me posso negar a mim mesma.